NECESSARIAMENTE NÃO HÁ EXCESSO DE PESO
Quando as crianças NÃO têm excesso de peso, é mais difícil que as famílias percebam os perigos do açúcar em exagero.
Porém os pais não devem ficar desatentos quando o seu filho, que come muitos doces, é magro.
Muitos dessas crianças, que são longilíneas, têm alterações dos lipídios no sangue, têm problemas de aterosclerose. Não são gordos, mas têm alterações metabólicas.
Nem tudo o que é mau causa dor. A hipertensão não dói, a diabetes não dói.
Não doem, mas matam.
E, mesmo quando existe excesso de peso, não é dada a devida importância.
Pensam que a criança vai “esticar” quando crescer, e que o problema vai desaparecer.
Só começam a perceber que há, de fato, um problema quando os exames bioquímicos saem alterados. Quando o colesterol, os triglicerídeos, a glicemia ou o ácido úrico vêm aumentados, quando as análises revelam INFLAMAÇÃO...
Cada vez mais as crianças estão com alterações nos exames e em idades mais precoces.
Criança de 10 meses pesando 21 quilos.
Adolescentes com diabetes tipo 2, com hipertensão, com colesterol elevado.
Patologias que eram ditas de adulto! Esses problemas são cada vez mais precoces e cada vez tem conseqüências mais graves. Quanto mais precocemente surgem, mais graves se tornam.
Essa mudança traduz toda uma modificação ambiental.
Se tiver dois gêmeos, iguaizinhos, monozigóticos (em que o genoma é precisamente o mesmo) e os expusermos a ambientes diferentes, eles irão desenvolver problemas diferentes.
Fazer menos e comer mais.
Foi isto que mudou no ambiente que nos rodeia. E comer mais erradamente.
Come-se mais do pacote da prateleira. Produtos em que, além daquilo que PARECE que está lá, possuem inúmeras outras coisas que não se sabe o que é.
Como, por exemplo, os açúcares.
Só identificamos a palavra "açúcar". E se chamar dextrose, maltose, frutose, xarope de milho.... A quantidade de açúcar que as crianças ingerem, diariamente, é assustadora.
TUDO o que é processado e vem num pacote tem açúcar.
E a maior parte das pessoas não quer abrir mão da praticidade que vem dentro do pacote.
Por isso a importância de olhar para o rótulo.
Se eu não conseguir ensinar mais nada na minha consulta, consigo ensinar, pelo menos, que é fundamental olhar para o rótulo.
A família toda está envolvida nesse processo. E os avós têm um papel fundamental!
Os avós são do tempo em que não havia esta “parafernália” dentro do pacote. O doce era o mimo do dia de festa.
Por isso, peço aos avós, por favor, que transformem estas coisas em mimos em abraços de afeto. Que levem eles ao parque para brincar, ver o pôr do sol, fazer castelos de areia. Que os ensinem coisas saudáveis. Peço aos avós que nos ajudem a MODIFICAR esta carga. E que percebam que, hoje em dia, o maior inimigo dos seus netos é o açúcar. A comida não é castigo, nem prêmio.
Ouso dizer que o açúcar é mais vilão que o cigarro. Em termos neurológicos, e de neurotransmissores, e de prazer, e da PRECOCIDADE com que é introduzido, tem conseqüências mais nefastas.
O açúcar causa dependência. Entra no domínio dos receptores cerebrais, no domínio do prazer, da compensação, do conforto. E a mesma dose não surte o mesmo efeito em longo prazo. Portanto vai aumentando o açúcar.
O açúcar adicionado causa os mesmos problemas metabólicos que o álcool.
Lembrando que o álcool vem, precisamente, do açúcar. Do açúcar dos tubérculos, do açúcar das frutas. E que a conseqüência é exatamente a mesma: o chamado "fígado gorduroso" (esteatose hepática).
Em curto prazo traduz-se em alterações nos exames laboratoriais.
Mais tarde traduz-se em tudo aquilo que contribui para a Síndrome Metabólica: diabetes tipo 2, hipertensão arterial, alteração do colesterol, aumento do ácido úrico.
A longo prazo, tudo isto se traduz em alterações cardiovasculares: infarto do miocárdio, acidente vascular cerebral...
São doenças que os pais associam aos pais deles. E não aos seus filhos.
Mas, se continuarmos assim, estaremos vivos, ainda, para presenciar nos nossos filhos.
Porque um adolescente que é diabético, depois de vinte anos, vai ter problemas oriundos desta diabetes.
E, se for uma menina, o problema é exponencial, porque um dia vai gerar um bebê neste ambiente intra-uterino. Em que a carga genética (que não é alterada) vai ser ativada ou inibida de acordo com o ambiente exposto in útero. É assustador!
Alguns podem ficar chocados, mas há uma expressão para o abuso do açúcar em idades tão precoces: maus tratos.
Muitas crianças, ao almoço e ao jantar, bebem refrigerantes.
Não acredito que seja falta de informação. Todo mundo sabe que bolachas com chocolate, leite achocolatado, balas, gomas, estas coisas, fazem mal.
É porque é mais fácil.
E o stress é o centro de toda esta nossa conversa. É o centro de todas estas alterações que nós sofremos.
Porque os pais não têm tempo, porque chegam a casa e estão exaustos.
Não há tempo para ser criança, não há tempo para ser pai.
As crianças não dormem o que deviam. A sociedade moderna está nos adoecendo.
E a nutrição AINDA é vista como coadjuvante.
Não é fármaco, portanto, não é vista como tratamento.
MAS É. A alimentação está na base da saúde e da doença.
É muito duro lutar contra a indústria. Não temos muita força.
Tenho saudades de crianças que esfolavam os joelhos em cima do que já estava esfolado.
Não vejo muito isto hoje em dia.
Não é que goste de ver crianças machucadas.
Mas isso significa que estão parados.
Quando muito, têm tendinites nos polegares. E miopia.
Priscila Franchini - Nutricionista - CRN10 / 5571